Os Gigantes da Montanha
de Luigi Pirandello
Tradução Luis Miguel Cintra
Encenação Christine Laurent
Assistente de encenação Manuel Romano
Cenário e figurinos Cristina Reis
Assistentes para o cenário e figurinos Linda Gomes Teixeira e Luís Miguel Santos
Desenho de luz Daniel Worm d’Assumpção
Director Técnico Jorge Esteves
Construção e montagem de cenário João Paulo Araújo e Abel Fernando
Som Hugo Reis
Montagem e operação de luz e som Rui Seabra
Guarda-roupa Emília Lima
Costureiras Maria Barradas, Maria do Sameiro Vilela e Teresa Balbi
Conservação do guarda-roupa Maria do Sameiro Vilela
Contra-regra Manuel Romano
Cartaz Cristina Reis
Secretária da Companhia Amália Barriga
Interpretação
A Companhia da Condessa
ILSE, também chamada A CONDESSA Rita Loureiro
O CONDE, seu marido Ricardo Aibéo
DIAMANTE, a segunda Actriz Sofia Marques
CROMO, o actor característico Luís Lima Barreto
SPIZZI, o Galã Pedro Lacerda
BATALHA, genérico-mulher Dinis Gomes
O LESMA, com a carroça Paulo Moura Lopes
COTRONE, dito O MAGO Luis Miguel Cintra
Os “Scalognatti” (Os enguiçados)
O ANÃO QUAQUÈO David Almeida
O DUCCIO DOCCIA Tiago Matias
A SGRICIA Márcia Breia
O MILORDINHO Pedro Lamas
A MARA-MARA, com a sombrinha, também chamada A ESCOCESA Rita Durão
MADALENA Rita Durão
FANTOCHES Rita Durão, Pedro Lamas e Tiago Matias
Notas
1. Neste espectáculo foi retirada a personagem de SACERDOTE, da Companhia da Condessa.
2. A tradução de Rita Marnoto, publicada pelos Livros Cotovia, foi um instrumento fundamental para a elaboração da nova tradução criada para este espectáculo.
Lisboa: Teatro do Bairro Alto. 13/11 a 21/12/2008
34 representações
Estrutura financiada pelo Ministério da Cultura/Direcção Geral das Artes
DO ENCANTAMENTO AO PAVOR
«A kind of humorous tragedy.»
É assim que Pirandello qualifica a sua última obra, «Os Gigantes da Montanha», quando está ainda a meio caminho no seu trabalho de escrita.
Humorous/Tragedy, este oximoro anuncia já uma tonalidade paradoxal, uma combinação de sombras e de luz, de encantos e crueldade.
Cotrone, o mágico poeta, porta-voz de Pirandello, convida-nos, do crepúsculo até à madrugada, no espaço duma noite, a rasgar a trama do tempo que passa. O seu território é uma «casa céu». Se se passar a porta, penetra-se num vasto quarto escuro, câmara de eco, lugar de todos os sortilégios.
Para provocar a travessia das aparências e o aparecimento da verdade escondida no fundo de cada um de nós, torna-se encenador. O teatro dele, o seu palco, é o inconsciente. Como Lewis Caroll, diverte-se a fazer com que o Ser e o Parecer se confrontem.
Chega mesmo a fazer reluzir a tentação de se desfazer o parecer para sempre, em proveito da total liberdade do ser. O seu jogo: desembaraçar o impulso vital, reconhecer a pulsão da morte, aceitar os desejos escondidos «nas cavernas do instinto».
O subterfúgio é tanto mais eficaz quanto os seus hóspedes de uma noite são actores. São sete actores, últimos elementos de uma companhia desgastada, arruinada, com falta de um público para quem representar.
Ser e parecer, entre estes dois pólos oscila, precisamente, o trabalho dos actores. Cotrone lembra-lhes que a essência da arte está contida nos jogos dramáticos ou nos jogos divertidos da infância. Acreditar, abandonar-se como as crianças: então tudo se torna possível. E prova-o: in vivo.
Mas no nosso pobre mundo, aquele que Cotrone abandonou há muito, é o princípio de realidade que prevalece. Uma companhia de teatro, fixa ou itinerante, precisa do público para viver e para sobreviver. Esta história expõe-nos o conflito trágico entre as razões irreprimíveis da arte e uma sociedade onde a arte já só tem a justificação do mercado.
Apesar do seu lado utopista e marginal, o mundo de Cotrone e dos seus amigos, os Scalognati, oferece, todavia, traços do real; é um mundo onde se exprime um certo realismo místico, um realismo mágico, e sobre tudo, um realismo metafísico.
Àquela fugitiva tentação de abandono, de renúncia, Ilse Paulsen, a grande actriz caída, resiste. Partirá, sozinha, para enfrentar os «Gigantes», enquanto as últimas palavras da peça ficam a ressoar de pavor no meio do ruído crescente: «Tenho medo, tenho medo…»
Será preciso segui-la até ao fim?
Será preciso prestar atenção ao aviso de Cotrone?
Será preciso vencer, ou ceder ao medo dos «Gigantes»?
Porque, finalmente, quem são aqueles «Gigantes»?
O «grande Outro»? As figuras impossíveis de olhar dos nossos medos ancestrais?
Uma parte de nós mesmos…
Christine Laurent
(Trad. LLBarreto)