Hamlet
Tragédia Cómica de Luis Buñuel
Tradução Mário Cesariny
Encenação Ricardo Aibéo
Cenário e Figurinos Ricardo Aibéo com a colaboração de Cristina Reis, Luís Santos e Luís Miguel Cintra
Som Vasco Pimentel
Desenho de adereços Luís Santos
Direcção técnica Jorge Esteves
Desenho de luzes Luis Miguel Cintra
Montagem eléctrica Elias Marcovela com João Paulo Araújo e Abel Fernando
Operação de luz Elias Macovela
Montagem João Paulo Araújo e Abel Femando
Guarda-roupa Teatro da Cornucópia, Teatro Nacional S. Carlos e Teatro Experimental de Cascais
Tratamento de guarda-roupa Alice Madeira
Construção de adereços Luís Santos, João Paulo Araújo e Abel Fernando
Contra-regra Manuel Romano
Produção executiva Tiago Bartolomeu Costa
Desenho gráfico do programa Cesário Monteiro
Cartaz Cristina Reis
Interpretação
Hamlet Ricardo Aibéo
Agrifonte Dinarte Branco
Mitrídates Luís Gaspar
Margarida Sofia Marques
Don Lupo Rita Durão
Capitão Luís Gaspar
Contertúlio Luis Gaspar
Espectro do pai de Hamlet Luís Gaspar
Sombras Manuel Romano, Rita Durão e Sofia Marques
Agradecimentos: Alice Madeira, Amália Barriga, Ana Ferreira, Serviços Florestais da Câmara Municipal de Lisboa, Cesário Monteiro, Cristina Janeiro, Amélia Carrilho, Daniel Worm d’Assumpção, Jasmim, Diana Coelho, Dina Azeiteiro, Elias Macovela, Emília Lima, Georgina Barbosa, Gonçalo Alegria, Helena Gelpi, Isaura Lobo, João Bénard da Costa, João Calvário, Linda Gomes Teixeira, Luís Mesquita, Manuel Romano, Maria Teresa Penha, Mariana Viegas, Mário Cesariny, Nuno Lopes, Patrícia Gaspar, Paulo Vieira – cabeleireiros, Manuel Bernardo, SubUrbe, Susana Carvalho, Teatro Experimental de Cascais, Teatro Nacional de S. Carlos, Vasco Pimentel, Pedro Chrístian Garcia Buñuel e Teatro da Cornucópia
Lisboa: Teatro do Bairro Alto. Estreia: 05/12/2000
12 representações
Produção de Ricardo Aibéo com a colaboração do Teatro da Cornucópia
Apoio de Fundação Calouste Gulbenkian, Câmara Municipal Lisboa - Juventude, Governo Civil
de Lisboa, Instituto Cervantes, Embaixada de Espanha – Serviços Culturais, Instituto Português da Juventude, Cinemateca Portuguesa, Teatro da Cornucópia, Correaria Machado, Agência Funerária Magno, Central do Mitelo e J.P.Vinhos.
HAMLET é um texto que muito poucos conhecem e, pelo que sei, nunca foi representado em Portugal. Aliás, a única apresentação desta peça, de que tenho conhecimento, foi feita em Paris, no sótão do Café Select, em 1927, interpretada pelo próprio Buñuel e alguns dos seus amigos espanhóis. Este ano comemora-se o primeiro centenário do nascimento de don Luis. Este espectáculo é, também, a nossa singela homenagem a ele.
O sonho. A imaginação. O Teatro. O amor e a morte. A morte e a mulher. A mulher e a mãe. O homem. O desejo. A frustração. HAMLET de Luis Buñuel é, parece-me, um teatro vazio e negro e também infantil, como o dos sonhos. Povoam-no personagens-fantasmas que se animam e actuam. Que aparecem e desaparecem misteriosamente. Quem são? Personagens teatrais vagueando pelos séculos? Sombras de um mundo desconhecido e sempre reconhecível? Um vazio onde explodem emoções, situações obscuras, diálogos incríveis, palavras duvidosas. Um vazio onde se escreve uma estória delirante e indescritível. Onde se fala uma linguagem secreta e desconhecida.
Esta peça parece-me uma espécie de puzzle que se pode montar como se quiser. Não porque a sequência das cenas seja arbitrária, mas porque cada palavra, cada gesto, cada situação é uma chave para várias ideias. Cada ideia uma chave para outras tantas. Cada um terá que escolher, ou não, o seu próprio caminho dentro do labirinto fantástico da sua imaginação.
Não sei se pode dizer-se que HAMLET seja uma peça impossível. Mas HAMLET é uma peça impossível. Como um poema. Parece que este texto é sempre superior ou, pelo menos, sempre mais concreto, do que a sua concretização. Porque o Cadáver de Mitrídates ser "levado pelo revolto caule do dia" não se faz. São palavras. E imagens. Mas que ganham uma forma dentro da minha cabeça, como dentro de outras ganharão, imagino eu, uma forma diferente e original. A cada um o seu "revolto caule do dia" único e intransmissível. Assim concretiza-se o inconcretizável.
Cito Buñuel no seu projecto-poema Uma Girafa: "Há que fazer constar que esta girafa só ganha verdadeiro sentido quando inteiramente realizada, isto é, quando cada uma das suas malhas cumprir a função a que está destinada. Se esta realização é muito dispendiosa, nem por isso será menos possível. TUDO É ABSOLUTAMENTE REALIZÁVEL."
A Sofia, a Rita, o Gaspar, o Dinarte, o Tiago, o Luís Santos, a Cristina, o Luis Miguel, o Vasco, o Mário, o Teatro da Cornucópia e tantos outros, com a sua desconcertante generosidade, tornaram absolutamente realizável a Girafa-Hamlet.
Ricardo Aibéo