6 - As Músicas Mágicas
fotos de Paulo Cintra AS MÚSICAS MÁGICAS de Catherine Dasté Tradução Márcia Breia Montagem Fernando Correia Guarda-roupa (execução) Emília Lima Sonoplastia Maurício Cunha Operador de Som José Caldeira Músicas Orlando Costa Director de cena Orlando Costa Colaboração de Wanda Ribeiro da Silva (coreografia), Paulo Brandão (expressão musical) Carlos Guerreiro (construção de instrumentos) Cenário e Figurinos Cristina Reis Realização do grupo Teatro da Cornucópia sob orientação cénica de Glicínia Quartin Interpretação Apresentadora Raquel Maria Big Boss Luís Lima Barreto Estanislau Gilberto Gonçalves Goma Arábica Alexandre Passos Rudolfo Augusto Figueiredo Jeremias Orlando Costa Lolita Márcia Breia Vidente Lia Gama Marinheiro Alexandre Passos Deusa Visnu Márcia Breia, Raquel Maria, Lia Gama Dragão Gilberto Gonçalves, Alexandre Passos, José Jorge Personagem (Faquir) José Caldeira, José Jorge Austríacos colaboração de todo o grupo Lisboa: Teatro do Bairro Alto, Teatro da Trindade, Teatro Aberto e Auditório ao ar livre da Fundação Calouste Gulbenkian. Estreia: 01/06/76 Digressão: Baixa da Banheira, Lavradio e Mortágua 31 representações Companhia subsidiada pela Secretaria de Estado da Cultura Apoio Fundação Calouste Gulbenkian apresentação 1. as músicas mágicas é o primeiro espectáculo para crianças realizado pelo Teatro da Cornucópia. Muitos são os que pensam que o teatro para crianças é uma actividade específica e que para tal ele deve existir apenas no âmbito de companhias especializadas - devendo para tanto existir companhias profissionais exclusivamente destinadas ao trabalho com as crianças. A pobreza de meios de que dispõe o teatro português não permite, no entanto, um desenvolvimento justo das companhias especializadas – e competentes. Exemplos (que são exemplares) como os de o bando e do teatro perna de pau são manifestamente poucos para um campo inacreditavelmente abandonado e desprezado. Acreditamos assim que, embora o nosso teatro tenha inevitavelmente menos possibilidade de desenvolvimento do que o terá o das companhias especializadas, nos compete criar espectáculos para crianças obedecendo a um princípio de qualidade e de rigor pedagógico. Com este espectáculo pretendemos dirigir-nos aos grupos escolares, criando para eles – e através dos professores e educadores – bases para um trabalho futuro; dirigimo-nos igualmente às organizações populares e às iniciativas populares visando as crianças. as músicas mágicas é o nosso primeiro espectáculo para crianças. Sempre o quisemos fazer. Só agora se tornou possível. A partir dele e das experiências que com ele fizermos, o teatro para crianças estará no nosso programa como forma importante, cremos, de apoio a organizações populares, como forma importante de intervenção. E intervenção na medida em que, em cada criança, vemos um projecto de individuo activo na criação da sociedade sem classes, no sentido em que, com Catherine Dasté “não julgamos que a finalidade do Teatro seja preparar as crianças para se adaptarem à sociedade, para se tornarem bons cidadãos, para se sujeitarem à moral vigente, mas pelo contrário, explorar o espírito e descobrir nele a um nível profundo, qualidades não suspeitadas, não desenvolvidas pela educação tradicional, provocar um despertar, abrir novos campos à imaginação, quebrar os limites da verdade admitida. O Teatro tem uma função poética, no sentido forte da palavra.” (in Information-Unesco-Catherine Dasté); 2. A escolha de as músicas mágicas de Catherine Dasté não foi apenas a escolha de uma peça, de uma determinada peça, mas a escolha de um certo tipo de teatro para crianças numa proposta pedagógica que vai ao encontro da criança como ela é e às suas mais profundas capacidades de criatividade, de imaginação, numa relação poética do seu universo interior e o real que a rodeia, que ela vai descobrindo, e transformando como uma forma de dele tomar conhecimento. A criança gosta da “poesia fantástica” e nela esse gosto não é ociosidade, corresponde a uma necessidade profunda para o seu equilíbrio efectivo e desenvolvimento intelectual. Tentamos neste acontecimento teatral, satisfazê-lo através do máximo de sensações – a luz, a cor, o som, numa variada gama de exploração (a música, a voz humana, o som que define um personagem, um objecto, a palavra...), o movimento e o ritmo… O jogo foi o elemento básico do nosso – trabalho, num apelo ao actor, à sua capacidade de improvisação e talvez... um apelo à sua memória duma fantasia perdida, um gosto pela transformação imaginativa do objecto, enfim o encontro dessa fronteira tão próxima do prazer lúdico e do trabalho artístico. Teatro da Cornucópia como fizemos este espectáculo para vocês Um grupo de actores do Teatro da Cornucópia resolveu fazer este espectáculo. Começou então por ler muitas peças. Umas eram deveras engraçadas, bonitas, até. Mas por uma razão ou outra, uma porque era difícil, pois precisa de muita gente, aquela porque tinha cenários complicados, outra porque custava muito dinheiro, foram sendo postas de parte (ficarão para depois) e acabámos de escolher as músicas mágicas – tinha música, e nós gostávamos de cantar, tinha palhaços, e nós gostamos de palhaços e pensamos que vocês também gostam, tinha aventuras... na Índia, na África, no México, e isso era divertido. Depois de lermos a peça, a Márcia traduziu, pois estava escrita em francês; houve quem passasse à máquina – O Alexandre e o Luís – e depois começamos a estudar os papéis, isto é, a ler e a decorar. Ah, mas antes a Glicínia começou a distribuir, os papéis - assim: tu Augusto vais fazer o palhaço Rodolfo, tu, Orlando, fazes o Jeremias e a Vidente pode ser feita pela Lia... e assim por diante, cada um dos actores encarregou-se do seu papel. E depois foi preciso estabelecer as regras - que é como quem diz: tu Raquel, que és a Apresentadora do Circo, vais fazer de conta que estás num circo - aqui, esta coisa redonda é como se fosse a pista entras lá do fundo, sobes para o praticável (é assim que em teatro se chama aos estrados que se põem cima do palco e que podem ter várias formas) e tu, Gilberto, que és o Estanislau, o Ilusionista, entras pelo lado direito sobes à pista e colocas-te depois do lado esquerdo... e assim foi preciso fazer durante toda a peça e para toda a gente, para que cada um soubesse onde ficava e não andassem aos encontrões uns aos outros – em teatro chama-se a isto “fazer a marcação”. Ao mesmo tempo o Orlando ia fazendo as músicas e até os versos para cantarmos, e o Jorge até teve que aprender a tocar o acordeon. A Wanda veio ensinar a dançar a polca austríaca. Jorge Silva Melo
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