26 - O Parque
fotografias de Paulo Cintra O PARQUE de Botho Strauss Tradução Alberto Pimenta Encenação Stephan Stroux Assistente de encenação António Fonseca Cenário Manuel Costa Dias Figurinos Maria Gonzaga Montagem Fernando Correia Iluminação Stephan Stroux e José Eduardo Páris Gravação da banda sonora João Coelho Operação de luzes José Eduardo Páris Operação de som Amália Barriga Contra-regra António Fonseca, Diogo Dória, Fernando Oliveira e Luís Lucas Guarda-roupa Emília Lima Costureira Maria Quadrado Director de cena Luis Miguel Cintra Adereços especiais Francisco Pereira Interpretação Helen Márcia Breia Jorge Rogério Vieira Elma Raquel Maria Lobélio (dito Lobo) António Fonseca Titânia Eunice Munõz (actriz cedida pelo Teatro Nacional D. Maria II) Oberon/Secundino Gilberto Gonçalves Altino Luís Lima Barreto Matutino Francisco Costa Cipriano Luis Miguel Cintra O Jovem Negro Sambela A Rapariga Anamar O primeiro Rapaz Diogo Dória O segundo Rapaz Fernando Oliveira O terceiro Rapaz Luís Lucas O Homem de Negro (A Morte) Luis Miguel Cintra O primeiro Homem de branco Diogo Dória O segundo Homem de branco Fernando Oliveira O terceiro Homem de branco Luís Lucas O criado do café Diogo Dória O filho de Titânia Luís Lucas A criada Anamar Colaboração de Yvette Centeno, Maria Adélia Silva Melo, Caixa Económica Operária, Eduarda Dionísio, Arquitecto Sidónio Pardal, Sabine Urban Vitorino, Senhor Michahelles, Holgar Mathies, Escola Alemã, Dieter K. Gerber, Quinta de S. Vicente, Câmara Municipal de Lisboa, Esplanada do Parque Eduardo VII, Vasco Lourenço, Vítor Canejo (Casão Militar), Almeida Faria, Céu Cortesão, Radiodifusão Portuguesa. Apoio de Bayer Portugal, Beiersdorf Portuguesa, Bernd R. Scheitterlein – Fundação Friedrich Naumann, Marcus e Harting, Miele Portuguesa, Opti-Lon Fechos de Correr, Salmon, Vitrohom Portuguesa – Resistências Eléctricas, Wella Portugal, Lufthansa e Euronadel, indústrias de agulhas. Lisboa: Teatro do Bairro Alto. Estreia: 08/01/1985 47 representações Companhia subsidiada pelo Ministério da Cultura Espectáculo com o apoio especial do Instituto Alemão em Portugal este espectáculo Este espectáculo nasce de várias razões. Primeiro a teimosia de continuar a olhar para o nosso mundo, a estranhá-lo, ou seja, continuar com um reportório contemporâneo que questione o mal-estar de que já há vários anos falamos. Não abdicar de uma posição moral sobre o que vivemos. Também a vontade de, nessa abordagem do nosso tempo, não fugir mais dos amores antigos, ou seja, não adiar mais a coragem de abordar as obras mestras desta nossa arte, pegar em Shakespeare, falar com ele da vida que levamos. Perder o medo. Assumir o fim dos nossos verdes anos. Chegaremos, por isso, ainda esta temporada a representar quase carinhosamente ricardoiii que há um ano traduzimos. Noutros sítios outra gente da nossa geração passa por caminhos parecidos. Botho Strauss, com obra para sempre ligada a uma companhia, a Schaubühne de Berlim, que durante tantos anos tomámos como modelo de virtudes e que há anos já se pôs a ler Shakespeare como só agora nós vamos ousar fazer, retoma agora o sonho de uma noite de verão e com ele constrói de novo o teatro do nosso mundo contemporâneo, transforma a “louca jornada” de Titânia e Oberon, deuses doutro tempo e da peça de Shakespeare, num crudelíssimo retrato do nosso tempo. Com o seu Parque e o nosso ricardoiii faremos um ano Shakespeare falando ainda do mal estar. Mal estar com os outros, no coração dos dois textos e dos dois espectáculos também, por acaso ou não. Nasce este espectáculo e a escolha deste texto, por outro lado, da escolha de um encenador “de fora”. No leôncio e lena de Büchner que há tempos fez com o Cena do Porto fomos encontrar uma verdade na direcção dos actores e uma vontade de experimentação com o espaço cénico que de certo modo o ligavam já a algum trabalho nosso. Expôr a companhia a “outras mãos”, deixar que outros dilacerem por momentos a nossa coerência ou a nossa segurança pareceu-nos, pelo menos, salutar. Por estas vias chegámos ao Parque. Com estas razões outras consequências vieram: a da escolha também de nova gente para a cenografia, para o guarda-roupa. A de duas actrizes da companhia esperarem pelo próximo espectáculo. Mas também a de finalmente termos caras novas no nosso “envelhecido” elenco. A de Eunice se ter emprestado às nossas vidas. E aqui chegados, não sabemos já se algumas consequências não se terão tornado em principal razão. Pelo menos em fonte de alegria. Não escondamos as dificuldades que o projecto também encerrou: uma peça extremamente longa, uma linguagem difícil de traduzir, um projecto talvez demasiado ambicioso para as actuais capacidades da companhia, o empréstimo de hábitos de trabalho nossos a novas formas de trabalhar, as dificuldades de adaptação de gente diferente a uma nossa pequena máquina que tem vícios secretos de há 11 anos. A dificuldade também de nos apropriarmos de um Parque que começa por ser alemão, de, num país sem tradição de teatro, se encenar uma peça que é toda ela uma citação de outra, de encontrar uma Titânia e um Oberon reconhecíveis para um público português, de conseguir que os amuletos de Cipriano falem da nossa condição de artistas, de aceitar que é pelo lado dos dois casais que a nossa realidade entra aqui, que não conhecemos os jovens que também povoam aquele parque. Foi outra vez um risco. Outra vez dizemos: expormo-nos a riscos destes, aos riscos todos, não nos defendermos, não nos fecharmos nunca, é nossa obrigação, é o nosso trabalho. Luis Miguel Cintra
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