59 - Dor
fotografias de Alessandra Balsamo DOR José Meireles Autoria e encenação José Meireles Cenografia José Meireles e Pedro Hestnes Ferreira Orientação gráfica Riu Mantero Montagem Luís Mouro e Alexandre Freitas Tratamento de som Emídio Buchinho Desenho e operação de luz Pedro Marques Spot televisivo Pedro Sena Nunes Produção José Meireles, Conceição Ferreira e Teatro da Cornucópia Interpretação Rogério Silva Vozes Gravadas (televisão) Sem abrigo 1 Alfredo Martinho Entrevistador Luis Miguel Cintra Sem Abrigo 2 António Fonseca Sem Abrigo3 e 4 José Meireles Sem Abrigo 5 Renato Aires Sem Abrigo 6 Almeno Gonçalves Vozes Gravadas (rádio) Executivo Paulo Raposo Politico da Oposição Luís Assis Lisboa: Teatro do Bairro Alto. Estreia: 25/06/1996 15 representações Co-produção José Meireles/Teatro da Cornucópia Apoio de Ministério da Cultura, Fundação Calouste Gulbenkian e Câmara Municipal de Lisboa (Pelouro da Cultura) Apoio de CP, Fergráfica, EsterioSom, Imprime, Latina Europa e Rádio Comercial ESTE ESPECTÁCULO Ò minha juventude que te foste sem que eu me apercebesse! Falando claramente e sem parábolas, nós somos as peças do jogo que joga o céu. Divertem-se connosco no tabuleiro do Ser, e depois voltamos, um a um, para a caixa do Nada, escrevia Omar Khayyam no séc. XII. Oito séculos depois esta consciência muito clara do que é a existência, o corpo e o tempo, está ainda mais longe de ser a parte integrante das nossas vidas. Um dos autores que mais escreveu sobre os problemas essenciais da humanidade foi Samuel Beckett, e é a ele que dedico esta DOR. Esta peça escrita a partir do tema: nos favos da dor os homens encontram a sua história, onde o envelhecimento ignorou a folia das andorinhas, é a fabulação de uma vida contada por um velho, muito velho, onde dor e prazer se dissolvem, alegria e tristeza, angustia e felicidade, numa ausência de dicotomia de sentimentos, tendo como resultado a osmose entre tragédia e comédia. Beckett já o provou: não há nada mais engraçado do que a desgraça. Numa época em que o tempo se tornou um valor mercantil pela troca directa das vivências do corpo, em que cada um se vende à hora, à semana ou ao mês, a velhice acabou por tornar-se um incómodo social devido à sua quase inevitável improdutividade. Mas é preciso querer quando se pode, porque nada de nosso temos senão o tempo e nem ele nem as estações esperam por ninguém, como nos ensinou Baltasar Gracián. E é esta espécie de hino à vida sob forma metafórica duma representação teatral que gostava de partilhar com os cidadãos meus contemporâneos, porque por mais críticas que possam ser as situações e as circunstâncias, é nas ocasiões em que tudo é temível que nada há a temer, é quando se está rodeado de todos os perigos que não há que temer nenhum, é quando se esta sem nenhum recurso que há que contar com todos: há uma vida a ganhar e é só a solidariedade entre os homens pode salvar a humanidade. Prosseguirei! José Meireles
|