8 - Alta Áustria
fotos de Paulo Cintra ALTA ÁUSTRIA de Franz-Xaver Kroetz Tradução Maria Adélia Silva Melo e Jaime Salazar Sampaio Encenação Jorge Silva Melo Cenário Eduardo Batarda Assistência de encenação Jorge Nascimento Assistência cenográfica Cristina Reis Assistência técnica Paulo Cintra Gomes Montagem Fernando Correia Colaboração de montagem Manuel Barata Som Paola Porru Fotografias Cristina Reis e Paulo Cintra Gomes Interpretação Anni Márcia Breia Heinz Orlando Costa Lisboa, Instituto Alemão e Teatro do Bairro Alto. Estreia: 28/11/76 29 representações Companhia subsidiada pela Secretaria de Estado da Cultura Apoio do Instituto Alemão de Lisboa. as regras e a excepção “Se eu fosse livre gostava de ter um filho”, conclui Heinz no Acto II. Na sociedade capitalista em que vivem (que vivem), nem Heinz nem Annie são livres. Não são livres porque estão presos nas coisas que têm, que não têm, que vão tendo a prestações. Há as cenas-repertório, as cenas-catálogo que enumeram o trabalho, a casa, o carro, a televisão, os estudos que fazem subir na vida, o jantar fora, alguns divertimentos que são tudo coisas, actos e temas a que Annie e Heinz são obrigados e se obrigam. Obrigam-se também aos mitos, mas Annie, menos livre que Heinz, que tem um trabalho diferente — é distribuidor. Annie e Heinz não são livres porque estão presos nos cálculos. No cálculo do quotidiano, do tempo e do espaço, do ritmo da vida, do dinheiro — trata-se de assalariados urbanos com salários curtos — da semana de trabalho e dos fins de semana, do tempo de trabalho e divertimento. Há as cenas da reflexão, das contagens, dos cálculos — o orçamento, os projectos, o amor. Annie e Heinz querem sujeitar-se sempre às regras, ao estabelecido, a ser como os outros, e portanto também a não transformar as excepções em regras, a conservar as excepções que devem ser raras. Há aquela cena curta que é a única. “Annie: Um dia de folga. Heinz: É domingo. Annie: Pois é.” Na sociedade de consumo, ter um filho já não é uma regra – é o que as personagens vão descobrindo enquanto a peça se vai transformando de cenas-catálogo em cenas-diálogo. Apesar de não ser livre, Heinz vai ter um filho. Ter um filho é uma excepção – dirá Annie. Como – por enquanto – tocar acordeon. Eduarda Dionísio
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