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Historial

65 - Sertório

Ficha Técnica

 

Sertório
de Pierre Corneille

 

Tradução Nuno Júdice

Encenação Brigitte Jaques

Colaboração artística Jacqueline Lichtenstein e François Regnault

Assistentes de encenação Luís Lima Barreto e Stephanie Leclercq

Cenário Jean Haas

Figurinos Jean-Marie de Baecque

Música Marc-Olivier Dupin

Desenho de luzes Philippe Collet

Coordenação técnica Luís Mouro

Montagem Fernando Correia com Alexandre Freitas e com a colaboração deFrançois Flouret

Montagem eléctrica e operação de luz e som Pedro Marques com a colaboração de Rui Simão

Penteados e maquilhagens Sano de Perpessac

Contra-regra Alfredo Martinho

Cartaz Cristina Reis

Interpretação

Sertório Luis Miguel Cintra

Viriata Sylvie Rocha

Aristia Isabel Muñoz Cardoso

Pompeu José Wallenstein

Perpena António Fonseca

Áufide Luís Lima Barreto

Tamora Teresa Sobral

Arcas Rogério Vieira

Celso Hugo Sequeira

Soldados Duarte Guimarães, Hugo Sequeira, Nuno Lopes e Pedro Lacerda

 

Colaboração de Emília Lima e do Teatro Nacional D.Maria II

 

Lisboa: Teatro do Bairro Alto. Estreia: 11/10/1997

 

Évora: Teatro Garcia de Resende

26 representações

Uma co-produção com o Théâtre de Ia Commune/Pandora

Companhia subsidiada pelo Ministério da Cultura

Apoio para a tradução: Fundação Calouste Gulbenkian; para os colaboradores franceses: RDP Antena 1, RTC, Hotel Orion e Association Françoise d’Action Artistique-Ministère des Affaires Étrangères

Este Espectáculo

Uma colaboração entre duas Companhias

Este Projecto

Este espectáculo corresponde à última fase de um projecto de colaboração entre duas companhias, dois núcleos de criação de espectáculos: a Companhia Pandora durante alguns anos no Théatre de Ia Commune de Aubervilliers (Paris) e o Teatro da Cornucópia. E começa por simples curiosidade, vontade de nos conhecer, vontade de os conhecer, teimosia também: um FAUSTO de Pessoa de Aurélien Recoing em Paris faz com que aí leia a ODE MARÍTIMA e retoma a curiosidade que há anos nos tinha feito lutar (em vão!) contra ventos e marés (cujos nomes talvez seja melhor calar) para conseguir trazer a Lisboa um famoso espectáculo da mesma equipa: o ELVIRE-JOUVET com Philippe Clévenot e Maria de Medeiros. Um outro trabalho particularmente surpreendente e divertido sobre Corneille, LA PLACE ROYALE, com uma amiga comum no elenco, dá-nos vontade de trazer esse espectáculo a Lisboa. Foi uma festa em Lisboa. E surge do outro lado a vontade de levar um dos nossos Gil Vicente a Paris. E lá fomos com O TRIUNFO DO INVERNO. E ao fim de vários anos e com o apoio de alguns ventos amigos, chegou-se aqui, a este SERTÓRIO de dois batentes, no fundo o mesmo espectáculo em dois lugares ao mesmo tempo: um cenário e um protagonista pensado para os dois lugares, um tradutor poeta com vontade de nos inventar um espelho para o texto francês, duas almas para Viriata, e Pompeu, e Aristia, e Perpena, e os outros, e afinal uma só equipa técnica franco-portuguesa. A paisagem lusitana da intriga foi mero pretexto. E nada disto é uma receita nem sequer o exemplo para produções europeias, é o nosso caso, é a maneira que arranjámos de fazer coisas que nos dão prazer. Por exemplo, conhecer, mas conhecer mesmo, e dar a ver a quem também possa gostar, textos assim. Gostamos todos de palavras. Gostamos deste teatro do século XVII em que as personagens são o verso que falam e que é quase sempre bico de obra, ou tarefa para poetas, traduzir. É bico de obra representar. Estes versos transtornam os homens, dão-lhes uma dimensão, transformam seres humanos em heróis, perturbam as fronteiras dos sentimentos privados e das públicas virtudes, confundem, graças a Deus, o campo da política e o do coração, põem em cena paixões, grandes almas, grandes corações: actores. Gostamos deste teatro de palavras porque é um teatro de actores e porque acreditamos que da tensão entre os nossos corpos e almas de pobres actores contemporâneos e estes versos antigos surge, de uma assentada, a edificante leitura destes em toda a pureza da sua glória e a transfiguração dos outros em seres mais que complexos, grandes e pequenos, sensuais e cerebrais, submissos e dominadores, todos diferentes todos iguais, nobres e vis, lindos e feios, vivos. O teatro não serve para nada se não for para isso: mostrar, revelar, tentar conhecer, dar a amar, a natureza humana. É isso que se chama brincar. Não há outra razão. Assim nasceu este pequeno projecto. Tanto menos por acaso quanto mais por acaso pareça.

Luis Miguel Cintra

 

A encenação de SERTORIUS em Lisboa continua uma longa série de intercâmbios entre as nossas duas companhias começados em 1993.

Desde os anos 80 que tinha conhecimento da reputação de Luis Miguel Cintra, tanto através dos filmes de Manoel de Oliveira, muito apreciados em Paris, como pelo que dele me tinha dito Maria de Medeiros, com quem tive o prazer de trabalhar. Quase chegámos mesmo a vir apresentar o famoso ELVIRE-JOUVET ao Teatro da Cornucópia!

Mas foi preciso chegar aos anos 90 para verdadeiramente nos conhecermos. Foi na Fundação Gulbenkian de Paris que o François Regnault e eu fomos ouvir Luis Miguel Cintra na ODE MARÍTIMA de Fernando Pessoa. Recitava-a em francês e foi para nós um momento mágico, uma revelação. Nesse momento dirigíamos o Théâtre de Ia Commune/Pandora em Aubervilliers onde tínhamos programado a criação do FAUSTO de Fernando Pessoa e tínhamos convidado o Luis Miguel a Aubervilliers para voltar a ler diante dos nossos espectadores entusiastas o sublime poema de Pessoa.

Foi então que nasceu a nossa amizade e o desejo de pensar e inventar projectos comuns. Do lado Francês travámos conhecimento com a aventura singular da Cornucópia, e imediatamente nos sentímos em sintonia com o seu espírito de resistência, o seu agudo sentido da liberdade de criação, a sua abertura ao mundo tanto como a todo o teatro de ontem e hoje, e por fim com a sua firmeza de opinião sem dogmatismo.

Daí a pouco o Luis Miguel convidava LA PLACE ROYALE de Corneille a Lisboa, e pela nossa parte recebíamos em Aubervilliers a companhia da Cornucópia com O TRIUNFO DO INVERNO de Gil Vicente enquanto prestávamos homenagem no Théâtre de I'Odéon aos seus 20 anos de criação.

É claro que o Luis Miguel sabia que a minha exploração do universo de Corneille não se limitava a LA PLACE ROYALE; e de facto já há muito tempo que eu tinha vindo a trabalhar num ciclo de tragédias a que chamei "coloniais" e já tinha tido a oportunidade de montar SOPHONISBE (com Maria de Medeiros) e LA MORT DE POMPÉE. Esperava vivamente poder continuar com SERTORIUS. Sabia que o Luis Miguel era perfeitamente francófono e tinha podido avaliar o seu apaixonado interesse pelo "alexandrino", o verso por excelência do teatro clássico.

Propus-Ihe o papel de Sertorius e combinámos que o representaria em Francês em Aubervilliers e depois em Português na Cornucópia. Fiquei tanto mais feliz por ele aceitar este duplo desafio quanto não via ninguém que pudesse incarnar tão profundamente como ele a força, a resistência, mas também a ternura e a terrível melancolia do papel.

Com SERTORIUS, Corneille consegue uma complexidade humana excepcional. Há uma sensibilidade, uma emoção, que correm debaixo do gelo aparente dos versos e logo me propus deixar passar tanto na direcção da representação como na cenografia, a mesma liberdade e a mesma febre que tinham presidido à encenação de LA PLACE ROYALE. Concebi esta encenação de SERTORIUS como uma operação de coração aberto e compus à volta do Luis Miguel uma distribuição em que se podiam reencontrar nos principais papéis os actores de LA PLACE ROYALE.

Hoje estou a recriar a encenação em Lisboa com actores portugueses. Alguns já estão há muito tempo próximos da Cornucópia, outros menos, mas todos estão profundamente felizes de viver esta aventura franco-portuguesa em torno do Luis Miguel Cintra e da equipa francesa.

Todas as noites oiço as palavras tão preciosas, tão apaixonadas, de Corneille na bela tradução de Nuno Júdice, e a língua portuguesa, os actores portugueses, dão à peça um novo sabor. O facto de ver Viriata, a jovem rainha da Lusitânia que Corneille tão ousadamente faz filha do primeiro herói nacional de Portugal, incarnada por uma verdadeira lusitana (Sylvie Rocha), o facto de a ouvir defender "o Tejo" contra os assaltos do "Tibre", proporcionam-me um sentimento de estranheza e intenso júbilo. Ouso pensar que Corneille que conhecia e admirava vivamente a cultura ibérica, teria gostado de ver o seu teatro representado em Português.

 

Brigitte Jaques

Imagens

fotografias de Paulo Cintra e Laura Castro Caldas ©





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